sábado, 13 de abril de 2013

So se fala do "efeito tomate" da cozinha de Dilma


Há três dias, um parlamentar do PMDB foi ao gabinete de um influente ministro do PT. Solicitara a audiência para tentar resolver uma demanda de sua província. Coisa relacionada à liberação das verbas de um convênio. Ao chegar, o congressista fez uma dessas perguntas ingênuas que todos fazem quando querem puxar conversa: “Como vão as coisas?” A resposta soou inusitada: “Tirando o efeito tomate, vai tudo muito bem.”
O visitante fez cara de dúvida. O que levou o ministro, frequentador contumaz da conzinha do Planalto, a explicar-se: “A presidenta Dilma tomou uma série de medidas de grande impacto. Ela elevou o Bolsa Família dos brasileiros que estão na extrema pobreza, reduziu a tarifa da conta de luz e tirou os impostos da cesta básica. Fez tudo isso e não se fala em outra coisa além da disparada do preço do tomate.” A inflação conspurcou a estratégia política de Dilma, eis o miolo da tese.
Como no poema de Carlos Drummond de Andrade, no meio da Presidência custuma ter uma pedra. Pois no meio da Presidência de Dilma tem duas pedras: inflação alta e PIB baixo. Para complicar, a carestia invade a geladeira da classe média e dos mais pobres –justamente os nichos do eleitorado a quem a candidata do PT dedica suas melhores atenções.
Vive-se nos arredores de Dilma uma tensão que pode inchar ou diminuir seu prestígio político. O repórter ouviu três personagens sobre o tema –o ministro que cunhou a expressão “efeito tomate”, um membro do diretório nacional do PT e um economista que esteve com a presidente no início da semana. Nenhum dos três se animou a questionar o “favoritismo” de Dilma para 2014. Porém…
Todos concordaram com o argumento de que uma inflação como a dos últimos 12 meses (6,59%), acima do teto da meta oficial, constitui matéria prima para a oposição. Um deles disse: uma escalada inflacionária que tem como vilões a farinha de mandioca (alta de 151,39% em 12 meses), o tomate (122,13%) e a cebola (76,46%) obviamente precisa ser enfrentada com vigor. Outro realçou que sera preciso pressionar o pedal dos juros sem permitir que o PIB evolua de pífio para estacionário. Algo tão complicado quanto retirar cartolas de dentro de coelhos.
As vendas de alimentos e bebidas caíram 2,1% em fevereiro, informou a Abras (Associação Brasileira de Supermercados). O PIB, que subira 1,43% em janeiro, recuou 0,52% em fevereiro, aditou o Banco Central. E a deterioração das expectativas talvez leve a uma elevação da taxa de juros, admitiu o ministro Guido Mantega (Fazenda). A oposição olha para essa cena e se imagina diante da sua hora.
No início da semana, Dilma recebeu a portas fechadas três bambambãs da economia: Delfim Netto, Luiz Gonzaga Beluzzo e Yoshiaki Nakano. O repórter falou com um deles. Não quis relatar muita coisa. Mas contou que a inflação ocupou apenas parte da conversa. O que embatucava Dilma de verdade era o PIB. Impressiona-se com a resistência do empresariado em investir. Acha que fez a sua parte: baixou juro, serviu desonerações e apressa concessões de serviços públicos.
Um dos presentes afirmou, com outras palavras, que o dinheiro é medroso. E parte do empresariado olha torto para o governo. Foge dos contratos de concessão sob o argumento de que exigem a abertura da caixa registradora ao mesmo tempo que limitam a taxa de retorno do dono da verba.
Dissemina-se ao redor de Dilma a impressão de que falta à sua gestão uma marca. A de cuidadora dos pobres se confunde com o legado de Lula. A de faxineira foi para o espaço na última reforma do ministério. Sobra, por ora, uma vaga impressão de que é gestora rígida e eficaz. A inflação, se mal combatida, pode mandar essa fama para o bebeléu.                     (Blog do Josias)


Nenhum comentário:

Postar um comentário